terça-feira, 1 de março de 2016

Os homens que não amavam as mulheres

Ultimamente, ao ler e entrar cada vez mais em contato com feministas lésbicas eu passei a enxergar minha sexualidade por outra ótica, e passei a enxergá-la como um obstáculo à minha real emancipação. É incrível a lucidez das lésbicas pra falar de gênero, ou melhor, é incrível a lucidez de mulheres que se libertaram da manipulação e da necessidade de aprovação masculina pra falar de gênero. Sou majoritariamente heterossexual, e com isso quero dizer que já me apaixonei por mulheres e sou aberta a envolvimento afetivo com mulheres, porém a maioria esmagadora das vezes que me apaixonei na vida, e a maioria de todas as minhas experiências até hoje foram heterossexuais. Não consegui ainda descobrir até que ponto a socialização feminina e a heterossexualidade compulsória, às quais fui submetida desde o nascimento, influenciaram a vivência da minha sexualidade. Acredito que essa descoberta seja um processo e, nesse ponto do caminho, me identifico como bissexual, majoritariamente heterossexual. Ser uma mulher negra e feminista em um relacionamento hétero é um misto de incompletude, abuso, inquietação e culpa. É uma prisão que a minha consciência de que todo relacionamento heterossexual será, em algum nível, abusivo não me blinde de me apaixonar por homens. Cada vez mais em relacionamentos heterossexuais eu sou colocada diante de uma verdade dura que eu não queria realmente acreditar: os homens não amam as mulheres. Não, os homens não nos amam, não são capazes de algo tão grande por nós. Não são capazes de se deixar por nós, de se abandonar, de abandonar seu lugar de privilégios por nós. A assimetria que eu enxergo nos relacionamentos heterossexuais é perversa: os homens são socializados pra independência, pra manipulação e pro abuso; e as mulheres, pra dependência, pra carência e pro perdão, assim os dois lados se completam em prol da manutenção do domínio masculino. Essa assimetria é cruel porque faz com que as mulheres se deem muito fácil, faz com que perdoem sempre tudo e que sempre carreguem sozinhas o fardo da manutenção do relacionamento. Ao mesmo tempo faz com que os homens ocupem a posição de conformidade, de “errei de novo, mas me desculpa, sou homem, estou tentando”, o homem se sentirá suficiente, sentirá que já está fazendo muito por apenas tentar e nos manipulará todo o tempo para acreditar que nós é que somos muito difíceis e exigentes. Aqui é importante destacar que ele não trabalhará sozinho nessa manipulação, contará com forte e indispensável ajuda da sociedade patriarcal que, à todo tempo naturaliza abusos em nossa cabeça e faz com que sintamos culpa por não aceitá-los. Cresci, como muitas meninas, envolta em um ambiente familiar em que observei acontecerem muitos relacionamentos abusivos à minha volta, e foi a partir dessa observação dos abusos cotidianos da vida conjugal que hoje eu entendi o lugar que acabei ocupando dentro de relacionamentos abusivos. Cresci vendo minha mãe, minhas tias, vizinhas, perdoando, sempre e sistematicamente se anulando e aceitando abusos em nome da manutenção de um relacionamento que não era bom pra elas, mas quem eram elas sem um homem do lado? Nós temos medo da solidão, e por isso nos submetemos a tudo, porque nos ensinaram que nada pode ser pior que estar sozinha. Para a sociedade patriarcal uma mulher solteira e que distoa, em algum nível, dos padrões impostos de beleza e feminilidade é a materialização do fracasso e da infelicidade. Sim, é essa a resposta: suportamos e mantemos o que não queremos por medo. Hoje acredito que aprender a lidar com a solidão talvez seja a única ferramenta efetiva contra relacionamentos abusivos. Aprender a ser só não é uma arma com a qual sou capaz de enfrentar o patriarcado de peito aberto e sair ilesa, mas um escudo com o qual posso alterar minha realidade individual. Estar só nos traz consciência, discernimento, traz força e coragem também. Estar só me trouxe o discernimento de quando o relacionamento é bom pra mim, ou não, me trouxe consciência de que a minha solidão não é um fracasso, de que não preciso anular quem eu sou e me submeter a abusos para estar bem comigo mesma. Minha solidão é um processo de resistência à cultura patriarcal de domínio e de abuso masculino sobre meu corpo e minha humanidade. Aprendemos desde cedo que a mulher é quem deve prezar pela manutenção do lar, a qualquer custo, a custo da própria liberdade, dos próprios sentimentos e saúde emocional. Crescemos aprendendo que a mulher deve ser tolerante, que devemos “segurar o homem”, que devemos ser flexíveis e aceitá-lo como ele é porque “homem é assim mesmo”, que devemos ter saúde emocional e paciência além da conta pra aguentar “a natureza selvagem e viril do macho”. Eis aí parte da desgraça da feminilidade. A nossa desgraça é bonita, a gente aprende a confiar e a perdoar muito facilmente e isso é bonito, tudo isso é, na verdade, super bonito. Tudo isso que a gente sente, toda essa nossa capacidade de amar, de se dar é de uma confiança absurda. Nós compartilhamos com os homens a beleza da nossa desgraça e acreditamos que eles podem entendê-la, acolhê-la, que podem nos amar. Nós damos aos homens uma confiança que eles não merecem, e lhes dedicamos um amor de uma grandeza que eles não tem a capacidade de valorizar. Acreditamos, sempre, e de novo, e outra vez, que tudo pode ser diferente, há uma beleza nessa inocência, uma beleza cruel, uma beleza perversa, uma beleza que sangra e que nunca cicatriza. Uma coisa que eu aprendi é que os meus sentimentos e minha desgraça, nada disso nunca vai estar acima do privilégio masculino. No fim os homens sempre vão agir se priorizando, foi o que eles aprenderam a fazer, e a gente sempre vai agir se secundarizando, é o que a gente aprendeu a fazer. A manipulação masculina se apresentará de formas sutis: frieza, chantagem emocional, silêncio. E, se não estivermos atentas, nosso amor servirá à manutenção do patriarcado, e a manipulação masculina será capaz de inverter o sentimento de culpa sempre pro nosso lado. O “amor” masculino precisa da nossa obediência, subserviência, da nossa submissão e servidão sexual pra se manter. O “amor” masculino é muito necessitado da nossa objetificação, consequentemente, da nossa desumanização. O “amor” masculino é algo muito despreocupado com o nosso cuidado, com os nossos sentimentos. O “amor” masculino é extremamente volátil e egoísta, é algo capaz de sumir num passe de mágica em nome da manutenção dos próprios privilégios. E foi nesse processo de vivência de todas as nuances em que pode se apresentar o abuso e a manipulação masculina dentro de relacionamentos heterossexuais, que eu por fim entendi. Entendi que devo matar essa beleza dentro de mim, devo resistir à feminilidade que me foi imposta e me colocar sempre em primeiro lugar. Devo me priorizar, me ouvir, estar atenta aos meus sinais. Devo parar de me preocupar com os homens de uma forma que eles jamais serão capazes de se preocupar comigo. Dentro de um relacionamento heterossexual, devo ser mais egoísta, devo reverter grande parte do meu cuidado com o outro em auto cuidado. Devo ser “complicada” “difícil” e “exigente”, porque tudo isso é por mim. Um homem que quisesse nos amar deveria entender tudo isso, deverá entender que a assimetria socialmente imposta pede como resposta que tentemos construir, em esfera micropolítica, um relacionamento contrariamente assimétrico. Devemos resistir aos comportamentos padrão de feminilidade e masculinidade para tentar tornar a relação homem-mulher não-sistematicamente abusiva. Os homens deverão sim priorizar sempre o que a gente sente com relação ao que eles fazem, e não sempre jogar de novo nas nossas costas o peso e a responsabilidade de lidarmos sozinhas com as nossas inseguranças. Isso não é amor, isso é egoísmo , isso é controle e isso é domínio masculino. Disponível em https://negrasolidao.wordpress.com/2015/07/02/os-homens-que-nao-amavam-as-mulheres/

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Nosso precioso tempo...

Sobre o desamor do homem e sinonimo de ser humano de cu é rola

Sobre o desamor do homem e sinonimo de ser humano de cu é rola Tudo começou a virar prática quando ganhei minha primeira boneca, por volta dos 3 anos. Assim como minhas amigas, nessa idade eu também já aprendia a cuidar de alguém que dependia de mim. Empurrava carrinho, dava banho, trocava roupa, cuidava do cabelo. Quando estava boa nisso e alcancei o instinto materno, pude avançar de nível, então vieram as panelinhas. Meu irmão era pouco mais novo que eu e, assim como seus amigos, brincava com uns carrinhos – aprendia sobre peças, velocidade, espacialidade. Ele também ganhava uns brinquedos de montar e criar objetos. Não tenho o que reclamar dos meus pais, eles me deixavam brincar de tudo, mas curiosamente algo já estava definido. Quando cresci mais um pouquinho ganhei um Tamagoshi – aquele bichinho virtual que precisava ser cuidado-, que a maioria das meninas tinha (e os meninos não curtiam). Eu adorava ler! Tinha em casa uns livrinhos, e lembro das histórias de princesas. Eram moças muito jovens que passavam a vida inteira se dedicando a serem boas pretendentes: aprendiam a cozinhar, a limpar a casa, cuidar dos bichinhos, e principalmente aprendiam a estarem lindas, sorridentes e limpas independente do que fizessem. Após tal processo, passavam a esperar o príncipe que as escolhessem. Iam aos bailes mostrarem-se disponíveis e ficavam ociosas nessa espera. Passavam dias se arrumando e competiam com suas amigas. Sobre o príncipe, sua única tarefa era escolhê-la. Ela devia ser muito incrível e ser aprovada por todos, e não devia cometer a afronta de negar o sortudo pedido de casamento. As que negavam acabavam sendo aquelas tias reclamonas e recalcadas, as velhas dos gatos, as bruxas vilãs solteiras com verruga no nariz. Ou seja, malvadas ou inúteis. Eram contos de fadas, mas na verdade não tanto. A história das mulheres que morreram na caça às bruxas da Inquisição, ou que foram internadas em manicômios, é basicamente a mesma. As que não se adaptavam à tarefa de servidão doméstica – que trás consigo uma infinitude de entrelinhas -, eram perseguidas, sendo condenadas à morte ou a loucura. Nessa época bem familiar a de hoje, qualquer manifestação de sentimento feminino era considerado histeria – as mulheres deviam estar dispostas a sexo com homens a qualquer momento, à atenderem suas necessidades, a não questionarem. Era sintoma de distúrbio psicológico manifestar considerações próprias, qualquer coisa a respeito de si mesma – e para tratar isso criaram o vibrador. Quando entrei na escola, os livros diziam coisas como “o Homem está no topo da cadeia alimentar”, “o Homem descobriu que a Terra era redonda”. Então eu entendi que homem era sinônimo de ser humano. Ao mesmo tempo, eu ouvia minha avó dizendo que todo homem é igual. Que homem não presta. Que eu não deveria namorar tão cedo. Vovó era bem bacana, mas certamente aquela palavra que ela usava não significava seres humanos, afinal, por mais bacana que fosse, ela não cogitaria falar sobre namorar mulheres também. Então minha cabeça passou a achar que as avós eram moralistas com esse papo de homens não prestarem, simplesmente pra que a gente não namorasse mesmo. Eis aqui o primeiro recado: escutem suas avós. E começa aqui nosso choque de realidade. Não é atoa que nossas histórias atuais pareçam tanto com a dos contos de fadas que líamos quando crianças; nem com o passado da Inquisição. Não é atoa que nossa vivência adulta se pareça tanto com aquela que nos foi ensinada quando tinhamos 3 anos. Certamente essa educação precoce não foi por acaso: a dificuldade tem de ser aprendida desde muito cedo para que seja assimilada com perfeição. Obviamente eu contrariei e logo comecei a namorar meninos. Não demorou pra que, vivendo no universo masculino, eu passasse a achar bobas todas as coisas que saíssem de mim ou fossem minhas – gostos, objetos, interesses, vontades, filmes, passeios, modos de falar, de sentar, roupas, etc. Os meninos endossavam bem o coro de “ah mulherzinha”, quando algum colega parecia feminino – leia-se demonstrar sentimentos. Algumas vezes ele simplesmente dizia estar gostando da colega de turma. Alguns meninos na escola me perseguiam e me seguravam forte, puxavam meu cabelo ou me cuspiam água. As professoram me explicavam que eles faziam isso porque, na verdade, gostavam de mim. Fui crescendo e as experiências foram evoluindo pra visitas em casa, namoro fixo, convivência cotidiana íntima. Eu imaginava que aqueles rapazes com quem compartilhava a vida fossem meus melhores amigos. E eu nunca entendia porque toda semana eu acabava sentindo algo esquisito que chamo de frustração confusa. Tal frustração surgia toda vez que eu precisava me abrir ou expor algum sentimento e o namorado ou não entendia, ou procurava algo melhor pra fazermos. Muitas vezes eles faziam piadinhas, dizendo que eu era chorona, e me chamavam pra tomar sorvete. Quando eu já não podia mais trocar minha necessidade por sorvete e insistia em falar, eles faziam uma expressão de tédio. Não sabiam o que falar, achavam chato, e chegavam sempre ao momento de tentar transar quando estavam exaustos de ouvir aquilo. E se eu não quisesse, eles reclamavam sutilmente sobre essa minha reação. Eu me sentia mal por não satisfazê-los e por sentir essas coisas. Parece que os tempos não mudaram. Nos programas de comédia na televisão, aprendi que as mulheres são as rainhas das “DR’s”. O que nós mais gostamos de fazer é discutir relação. O curioso é que depois descobri que chamam de DR qualquer conversa onde se exponha sentimentos mais profundos, que fale sobre si e sobre o outro – que fale sobre a relação. E todas as vezes que imaginei uma conversa onde se abrisse pra isso, foi bonito! Só na imaginação. Os homens não aprenderam o que é isso e lidam como se fosse uma afronta. Eles mudam o humor, criam uma aura de briguinha e te culpam por querer levantar questões sempre. Comigo não foi diferente. Perdi a conta de quantas vezes deitei dizendo que estava meio triste por conta de sua reação e o companheiro dormiu. Ou quis transar. Não demorou pra que eu fosse chamada de histérica – e olha que nunca fui exaltada, apesar de ter mil motivos pra ter sido. Fui me entendendo como aquilo que os homens me chamavam: cheia de questões, problemática, intensa, racional demais. É, fui culpada diversas vezes por racionalizar demais as relações. Me sentia queimada na fogueira toda vez que me abria. Foi então que entrei num ciclo vicioso de relacionamentos abusivos, onde eu me anulava todo o tempo pra relevar minhas pendências em prol do bem estar do homem. Porque, se meu próprio namorado não era capaz de lidar com elas e me ouvir, eu realmente devia estar sendo exagerada. Diziam pra eu ser mais madura e para de jogar pesos sobre eles. Comecei esse processo de crescimento, mas os diálogos mentais não cessaram. Eu conversava com eles mentalmente e sempre era incrível. Era maduro, era carinhoso e acalentava a alma pelo compartilhamento de amizade e dedicação mútua. Não tinha peso nem culpa, nem expectativa elevada – tinha apenas compreensão. Eu não conseguia entender isso, apesar de me esforçar muito – como sempre. Não entendia como pra mim era tão leve e quando expunha pra eles era tão pesado. Eles diziam que era a forma que eu falava, meio grosseira, cheia de cobranças. Então eu modifiquei totalmente o modo de abordagem. Fiz várias vezes, vários testes diferentes. Passei até a tentar não falar mais nada. Pra mim isso era bem ruim, então passei a falar com muita delicadeza e carinho. Nada mudou, e eles diziam que eu tinha que aprender a ceder pra relação funcionar. Nada mudou, mas a culpa continuava sendo minha. Por que na minha cabeça tudo funcionava tão bem? Fui procurar ajuda na terapia, fiz meditação, acupuntura. Pra curar minha histeria o vibrador foi insuficiente, mas tentei outros meios. Me tornei uma pessoa muito calma, porém cheia de culpas que não sabia como eram minhas – mas eram. Mas a vontade de conversar não passou. Achei que estava louca ou tinha depressão. Na terapia eu falava “doar” e minha terapeuta dizia que minha boca pronunciava “doer”. Namorar homens é complicado, por conta de toda criação desigual já mencionada: você acaba vivenciando milhões de machismos, silenciamentos e violências sutis ou não. E isso deve ser conversado, assim como qualquer sentimento bom também deve ser conversado – e é essa parte boa a única parte que eles aceitam ouvir. Qualquer coisa dita fora disso, por mais calma e “namoral” possível, era o cúmulo da minha incapacidade de relevar as coisas. O que meus namorados não entendiam é que se eu estava disposta a namorá-los, eu estava automaticamente disposta a relevar um monte de coisas para que isso fosse possível. Começando pelo fato deles serem homens! Mas eles não podiam participar do processo de melhora de hábitos próprios. Toda vez que mencionava algo, era como se eu estivesse fazendo deles um monstro. Eu. Fazendo deles. Quanto mais eu conversava e convivia com amigas que também namoravam homens, mais eu via o quanto essa história era repetitiva. O quanto todas nós em algum momento nos víamos inteiramente dedicadas sozinhas a manutenção do relacionamento, uma vez que os homens se mantinham incapazes de lidar até com seus próprios erros. Mas tinham facilidade em apontar os nossos. E sim, precisamos falar sobre exploração afetiva. Nós realmente fomos criadas pra servidão, pra disponibilidade e dedicação extrema – o padrão desses relacionamentos é você ser o colo do homem todo o tempo e quando é você quem precisa, se depara com a pontinha de uma perna. São eles os distantes, os que não se preocupam com saúde sexual, os que não gostam de camisinha, os que não dividem o custo do anticoncepcional, os que não te ajudam a lidar com os efeitos colaterais da pílula, os que não gostam de “tretas”. Somos nós mulheres que nos descabelamos pra achar as soluções de tudo, e vamos procurar ajuda com outras amigas – porque você já foi tão chata com ele, que ele deu ultimatos sobre continuar a relação. Crescemos cuidando de outros seres enquanto esses namorados cresceram desmontando carrinhos. Enquanto passamos a vida sendo afogadas num sonho de casamento e final feliz, os homens estavam sonhando com qualquer coisa. Esse padrão romântico pode parecer coincidência, mas definitivamente não é. Lembro quando meu irmão brincava de casinha comigo. Eu usava uma barbie, e ele queria usar um boneco de um tamanho muito menor pra ser meu marido. Eu brigava com ele e não deixava, dizia pra usar o boneco do tamanho da minha. E não era falta de imaginação: era apenas pelo fato de que o matrimônio foi empurrado goela abaixo das mulheres. E aquilo era importante demais pra mim pra que ele não levasse a sério. Outra parte do padrão é a destruidora capacidade que as mulheres tem de negligenciar sua própria vida afim do relacionamento. Tanto eu quanto minhas amigas acabamos com frequência faltando aulas, desmarcando encontros e compromissos diversos para podermos cuidar e/ou ficar junto com o companheiro. E o oposto não acontece. Os homens, naturalmente, continuam com seus planos, seus estudos e empregos. Há quem diga que isso é um dom, que as mulheres são os seres iluminados; citam até o espírito materno. Fizeram aquelas frases “por trás de todo grande homem há uma grande mulher”. De cu é rola! Esse anulamento feminino não é bonito. Ele é consequência de colocarem o casamento como prioridade na vida das mulheres e, como os tempos mudaram, você pode substituir “casamento” por “namorado”, “boy”, “pênis”, por exemplo. A sociedade só valida a existência feminina quando ela arruma um homem. E aí a vovó se contradiz e fala “segura esse macho!”. Os contos de fadas se repetem e acionamos tudo o que aprendemos para conseguir segurá-lo. Me lembro de algumas vezes que eu estava tranquila sozinha e algum homem me pediu em namoro. Diversas vezes não me apeteceu, mas eu aceitei. Outras tantas eu dei seriedade demais a algo que pra mim nem era tão importante – e isso não é sobre irresponsabilidade afetiva, e sim sobre apenas não desejar estar com tal pessoa. Definitivamente eu amo estar sozinha, mas por um motivo que luto contra, meu pensamento sempre está em alguém. Ainda que nem estejamos juntos, parece que eu e minhas amigas vivemos numa busca incansável por uma completude que não nos disseram que está em nós mesmas. Não, isso não é por acaso. E essa busca é muito triste, porque quando falhamos numa relação é como se tivéssemos falhado enquanto pessoas. Como se fossemos ruins. E realmente sentimos isso, já que é a nossa principal função manter um namoro funcionando. Quando o rapaz termina sentimos um ego ferido que difere muito ao que o homem sente. Enquanto competimos com nossas amigas quem arranja o melhor namorado – mesmo inconscientemente-, esses namorados estão conversando entre eles sobre suas aquisições materiais, intelectuais, degustativas. Os homens foram criados aprendendo posses, lidando com objetos. Quando um rapaz de quem gostamos não nos quer, nos sentimos ruins, feias, desinteressantes e desistimos. Mas quando acontece o oposto, funciona como se tivessemos ativado o botão de insistência deles. Como se eles não conseguissem lidar com esse objeto que não podem ter. Assim como nos livrinhos infantis, são os homens que decidem quem, quando e onde começar um relacionamento. As mulheres só devem permanecer na vitrine esperando e, se alguma resolve pedir um rapaz em namoro, é chamada de ousada demais ou desesperada pra casar. Não precisamos nem pedir em namoro: estar ficando com um cara e dizer “vamos nos ver de novo?”, ou começar qualquer assunto sobre nossos sentimementos já é o bastante para ser aquele peso gigante inaceitável. Como se realmente quiséssemos namorar todos os homens com quem ficamos. Na maioria das vezes só queremos ter um papo menos superficial mesmo. Cansada de ser taxada de apressada, tratei de aprender que pra dar certo e ser escolhida, tenho que seguir a lógica dos meninos que me batiam quando gostavam de mim: fingir que não estou interessada! Ou melhor, ser indiferente e cruel. O típico comportamento masculino é esconder sentimentos e ser negligente. Sumir sem dar notícia, se calar sem explicar, aparecer só quando é conveniente, parecer ótimo o tempo todo, fingir que não sente nada. Os filmes de sessão da tarde ensinam bem sobre como as mulheres não devem ligar no dia seguinte ao encontro. Ser indiferente mesmo. É sério que vamos criar relações com tais bases? Quanto mais moderninhas pessoas com quem ando, isso fica mais explícito. Pra ser mais livre eu preciso não ligar pra nada, estar ok com tudo sempre. Cumprimentar todos sorrindo e aceitar as propostas de beijo, sexo livre e relacionamentos efêmeros que pouco se importam com minha existência. Mas a verdade é que independente do grupo, vai ser assim – com a diferença perigosa de que no grupo dos desconstruídos isso é disfarçado de liberdade. Mas essa liberdade não soa muito masculina? Eu definitivamente não almejo ser desumana como um homem, embora saiba que a criação das mulheres também me fez doentia em vários aspectos. Mas continuam sendo nós, eu, minhas amigas, minha mãe, minha avó e as mulheres em volta, as pessoas que cuidam e se preocupam de verdade com o sentimento dos outros. Somos nós que nunca dormimos quando alguém ao nosso lado diz que está triste. Somos nós que somos transparentes para que o outro não fique inseguro. Eu não desejo destruir isso em mim para ser capaz de me relacionar com outros seres, porque a consideração e cuidado é a base pra qualquer afetividade. Há quem diga que os homens aprendem a amar quando viram pais. Eu ainda não acredito nisso, uma vez que nem essa tarefa – cuidar da criança de verdade – é considerada deles. Gastaram dinheiro me dando bonecas na infância com uma finalidade bem estabelecida. Não parece muito óbvio o quão mais frequente é as mulheres falaram sobre as relações e a manutenção das mesmas? Foram as mulheres as ensinadas a trabalhar isso, aprendendo a se pôr no lugar do outro, aprendendo como é se relacionar. Nós sabemos o que é cuidado e compreensão. Nós é quem sabemos o que é ceder – e até demais. A questão é que esse aprendizado não é ruim e muito menos bobo. Toda pessoa que ame ou acredite no amor, sabe do que estou falando. E ser a favor disso não significa que sou a favor de que todos casemos e invistamos em famílias tradicionais. É algo bem diferente: apenas que tratemos quem amamos com a devida importância, e que cuidemos todos de nossos afetos. Mas insistir nesse modelo narrado acima significa criar relacionamentos abusivos onde as mulheres são as maiores vítimas. Onde suas existências são sempre invisíveis. Onde tudo que é humano é feminino demais e pesado além da conta. Precisamos entender como abusivos esses namoros onde ficamos confusas, onde lidamos com tudo sozinhas, onde criamos diálogos mentais por não podermos falar de verdade. A história se repete. E amigos homens, seres inteligentíssimos, revolucionários da liberdade: vocês já deviam ter pensado sobre suas próprias crises existenciais e o mundo infeliz que estamos construindo. Quando o amor – em suas manifestações – é colocado como sentimento essencialmente feminino num modelo social que diminui e ridiculariza tudo que vem das mulheres, é óbvio que vai ser uma sociedade doente. O sentimento é algo construído para ser apenas feminino. E qualquer observador percebe o quanto as coisas femininas são inferiorizadas. E não, eu não quero amar menos. Não quero tratar os outros com indiferença. Quero ser amiga, quero ouvir quem precisa. Eu quero sim me sentir suficiente sozinha e quero que parem de ensinar as meninas que elas precisam de um marido para serem “a grande mulher por trás dele”. Mas não somos nós, mulheres, que devemos nos adequar as formas masculinas de “amor”, são os homens que devem aprender a amar com o mesmo esforço que nós fizemos! Deixem seus filhos brincarem de boneca. E quanto aos homens crescidos, não sejam casos perdidos. Sei o quanto vocês reclamam de como os romances são “líquidos” e que os “novos tempos de internet afastam as pessoas”. A questão não é o tempo, como podem perceber. Reconheçam em vocês o desamor. Ouçam suas companheiras, elas cresceram aprendendo a lidar com seres humanos e, dessa forma, a serem humanas. Vocês aprenderão também. dISPONÍVEL EM https://versoando.wordpress.com/2016/02/21/sobre-o-desamor-do-homem-e-sinonimo-de-ser-humano-de-cu-e-rola/

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Empoderamento Feminino

Lendo um.livro de psicologia cheguei num trecho que a autora diz que no conto de fadas "a Bela e a Fera" , existe a...

Publicado por Letícia Buendía em Quarta, 24 de fevereiro de 2016

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Refém: Uma resposta à Fernanda Torres de Carol Patrocinio

Fernanda, preciso te contar uma coisa: estamos em 2016 e a escravidão acabou há 128 anos. Sei que é pouco tempo, mas já deu pra se localizar no contexto social em que vivemos e aprender a olhar o mundo com empatia, ainda mais quando o acesso a informação é tão fácil. É triste quando mulheres reproduzem o machismo, mas a gente entende. Eu, assim como você, fui criada nessa mesma sociedade machista. Só que quando mulheres cultas, chamadas de intelectuais e com acesso a informação reproduzem um discurso falso é complicado de lidar. Tó, miga, tó essa magia para abrir a sua cabeça E, olha só, você tem acesso a toda essa informação. Você mesma deixa isso claro no seu texto. E falar que a diferença com que o mundo trata homens e mulheres é biológica é quase criminosa: esse mesmo tipo de teoria foi utilizada para "comprovar" que negros deveriam ser escravizados. Esse é o lado que você escolheu ficar, Fernanda. O problema é que não é apenas nesse ponto que seu texto se mostra além de intelectualmente desonesto, racista e machista. Que diferença biológica faria com que uma mulher ganhasse um salário menor do que um homem que ocupa a mesma função, tem a mesma experiência e educação? Que diferença biológica faz com que seus pares recebam mais do que você ao escrever um livro ou roteiro? Porque isso acontece, Fernanda. E não há diferença biológica nenhuma nisso. "Tenho gratidão pelas babás que me criaram e que criaram meus filhos, cumprindo a função da mãe social, que nos tempos da vovó menina era feito pelas tias, primas, avós e irmãs da casa" Mãe social? Você nota quão escravocrata é isso? Quem cria os filhos das babás? Filhos são feitos por um casal e é esse casal quem tem que arcar com sua criação com a colaboração de toda a sociedade, incluindo o chefe que acha que mulher sai demais quando tá com filho doente. Uma criança é um legado para o mundo. "Minha babá era um avião de mulher, uma mulata mineira chamada Irene que causava furor onde quer que passasse. Eu ia para a escola ouvindo os homens uivando, ganindo, gemendo, nas obras, nas ruas, enquanto ela seguia orgulhosa. Sempre associei esse fenômeno à magia da Irene. O assédio não a diminuía, pelo contrário, era um poder admirável que ela possuía e que nunca cheguei a experimentar" Antes de tudo, você sabe o que quer dizer mulata? Poderia ter dado uma olhada nos textos publicados nessa mesma coluna que você usa para espalhar seu parco conhecimento social e aprenderia com o texto A Mulata Globeleza: Um Manifesto: "A palavra de origem espanhola vem de 'mula' ou 'mulo': aquilo que é híbrido, originário do cruzamento entre espécies. Mulas são animais nascidos do cruzamento dos jumentos com éguas ou dos cavalos com jumentas. Em outra acepção, são resultado da cópula do animal considerado nobre (equus caballus) com o animal tido de segunda classe (equus africanus asinus). Sendo assim, trata-se de uma palavra pejorativa que indica mestiçagem, impureza. Mistura imprópria que não deveria existir. Empregado desde o período colonial, o termo era usado para designar negros de pele mais clara, frutos do estupro de escravas pelos senhores de engenho. Tal nomenclatura tem cunho machista e racista e foi transferido à personagem globeleza, naturalizado. A adjetivação 'mulata' é uma memória triste dos 354 anos (1534 a 1888) de escravidão negra no Brasil." Eu sei, você não é racista. Nenhum de nós o é. Mas, para dor e desespero de muito, não é a gente que decide isso, mas o outro. É quem olha de fora que pode dizer se você está ofendendo. É o negro que decide. Nós, brancos, não estamos acostumados com negros decidindo nada, mas é assim que o mundo funciona hoje em dia. Além desse termo horrível, você fala que sua babá, que era negra ou não-branca, ouvia absurdos por onde passava. O que você chama de "homens uivando, ganindo, gemendo", eu chamo de absurdos. Você imagina como ela se sentia? Você acha que algum desses caras gostaria de apresentá-la para a mãe, levar no almoço de domingo, desfilar com ela pela orla? Não, Fernanda, a maior parte desses homens querem transar com mulheres negras e casar com mulheres brancas. Infelizmente, no imaginário masculino, até hoje existe mulher para transar e mulher para casar. E continua sendo igual na época da escravidão. Pensamentos como esse corroboram para que esse imaginário se mantenha. Você já pensou em conversar com a mulher que trabalhava para sua família como babá o que ela achava desse assédio? Porque, assim, ela existe, é uma pessoa. (E sobre esse assunto, tanto da hipersexualização da mulher negra quanto da sua solidão, indico três textos maravilhosos: A carne mais exótica do mercado, A solidão da mulher negra e o racismo cotidiano e Síndrome de Cirilo e a solidão da mulher negra). Você ainda fala que inveja "o companheirismo dos homens, o prazer que eles sentem de estarem juntos e se divertirem com qualquer bobagem". Será que o problema são as mulheres ou as relações que você vem travando com outras mulheres? Durante anos eu senti o mesmo que você. Só andava com os caras, queria ser um dos caras, queria ser como eles, ter amizades como as deles. E aí eu descobri mulheres incríveis ao meu redor. Mulheres que não competiam comigo nem eu com elas, mulheres que riam de besteira, dividiam o prazer de fazer nada juntas, que entendiam que tanta coisa nos unia e não valia a pena deixar nada nos separar. Hoje a gente criou a Comum que é um lugar em que a gente aprende que juntas somos mais fortes e podemos materializar esses encontros cheios de risadas, amor e amizade entre mulheres. O machismo não incomoda enquanto ele não é uma bela água batendo na sua bunda pelada. Uma água de banheiro público que esfria sua bunda quando você menos imagina. Aí ele incomoda. Mas existem contextos em que é fácil viver numa boa com o machismo e achar que ele se resume a ser machão. Machismo mata. Violenta mulheres. Acaba com vidas. Diz que tudo bem abandonar um filho. Faz parecer besteira a gente querer andar pela rua sem ser desrespeitada, seja verbal ou fisicamente. O machismo não é apenas um cara que gosta de transar, coçar o saco e falar besteira. Tudo isso a gente também gosta, inclusive de coçar. "O Brasil está entre um e outro" Infelizmente, Fernanda, o Brasil está mais perto da Índia e seus estupros coletivos que contam com a vergonha da mulher em denunciar do que da Alemanha e sua vontade de se distanciar da história de terror do seu passado. O flerte não é um problema, mas o flerte não é o assédio, não é a cantada de rua, não é a cultura do estupro que nos convence de que mulheres existem para servir os desejos sexuais dos homens. "Uma vida de indiferença, onde todo mundo é neutro, não falo igual, digo neutro, sem xoxota, sem peito, sem pau, bigode, ah... é uma desgraça" Não consigo entender de onde as pessoas tiram essa ideia. Quer dizer, entendo pessoas com pouco acesso a informação, que assistem programas em emissoras opressoras, acreditarem no que escutam ali, mas gente chamada de intelectual... As pessoas continuam tendo vaginas e pênis, seios, bigodes... Continuam transando, paquerando, dançando até o chão e talvez no colo do coleguinha. A diferença é que essas diferenças só existe ali, em mais nada. Adoro um pênis. Uma vagina também. Mas nada disso me importa na hora de contratar uma pessoa. Não me importa na hora de pagar bem quem oferece um serviço de qualidade. Não me importa quando alguém sobre violência. Não faz diferença nenhuma se tem peito, pinto, buceta, bigode. Ou se tem peito com pinto. Ou buceta com bigode. Vê a diferença? É sutil, mas está ali. "A vitimização do discurso feminista me irrita mais do que o machismo. Fora as questões práticas e sociais, muitas vezes, a dependência, a aceitação e a sujeição da mulher partem dela mesma. Reclamar do homem é inútil. Só a mulher tem o poder de se livrar das próprias amarras, para se tornar mais mulher do que jamais pensou ser" A parte mais importante desse trecho do seu texto é o MUITAS VEZES. Porque quando você o usa está assumindo que não é sempre assim. E aí falta empatia. Você não é uma má pessoa, mas comete o erro mais comum de todos: mede o mundo por você. A você falta essa vontade de ser livre? Essa força para lutar contra todas as amarras que você acha que precisa manter para ser "feminina", "desejável", "ter sucesso"? Porque, Fernanda, você não precisa. Você é refém de tudo isso. E é a exceção, aquela que comprova a regra. No final das contas você apenas está fazendo com que tudo o que a gente diz se prove ainda mais verdadeiro. A gente não está se sujeitando, está apenas seguindo as regras que dizem pra gente que são as certas. Até o dia em que a gente abre os olhos, escolhe a pílula certa entre a vermelha e a azul, aguenta o clarão passar e começa a enxergar o mundo com mais objetividade, sem vendas nos olhos, nem as de renda que só deixam tudo meio confuso. E nesse dia a gente entende uma coisa incrível e que vai totalmente de encontro ao que você diz em seu texto: "Nunca fui mulher o suficiente para chegar a ser homem" O que eu te digo é que eu descobri que sou mulher o suficiente para não querer ser homem. E isso me torna completa, forte, plena e pronta para levar luz a assuntos que incomodem quem adora sentar no topo da montanha de privilégios. Machistas não passarão. Racistas não passarão. Independente se são homens ou mulheres. Você ganha a minha sororidade - a tal amizade entre mulheres, sabe? -- porque eu sei que não é fácil sair desse fluxo de obrigações femininas e silenciamento, mas não espere uma mão sendo passada pela sua cabeça: você é mulher o suficiente para ser melhor do que isso. *Esse texto é uma resposta ao conteúdo publicado pela autora e atriz Fernanda Torres, sob o título Mulher no blog #AgoraÉQueSãoElas, do site do jornal Folha de S. Paulo *Texto originalmente publicado em Medium Carol Patrocinio Carol Patrocinio é jornalista, mãe, feminista e busca uma vida mais saudável em todos os sentidos: social, política e sustentavelmente.

sábado, 25 de outubro de 2014

Dela

Flamejo enquanto acendo Refresco quando acalmo... Acalmo com teu caule na mão De esquerda ou direita A sacudir ou alisar A engolir ou a chupar Refresco com a tua língua A me lamber, a me dizer a me salvar Anseios, distâncias , fluídos não me confunde rumo nenhum... O meu rumo é onde está teu corpo de pelos acordados ou não, de sedes transtornadas ou não. Rumo certeiramente pra onde estiver teu cajado exuberante e erguido e faço dele o meu pileque. Trêbada de suor saliva e sêmen levito no teu precipício e te saúdo a nuca com um beijo de hálito quente. Te firo pra mostrar quem é que manda, mas eu sou tua-só-tua. Meu aroma de fêmea só existe por que você é o macho. Obra de Égon Schiele

Dele

Anseios fluídos pela distância, Onde a noite confunde os rumos Transtornados pela sede, Pelo frio e pelos apetites Beijos que acordam pelos, Nucas, pele a pele, E espera pra que eu a pegue Sem máscaras, sem pileque, sem roupa Poupa , desnuda, semente Lábios flamejantes, hálito quente Teu aroma de fêmea. Que me fere acariciando E me levita de meus precipícios, Na direção da tua fonte, Ao estalo do cajado Sempre erguido sob o sol Na direção de sua fluente Que flameja enquanto acesa e refresca enquanto calma.
Foto: Julia Fullerton